Na
escola, nós aprendemos que a filosofia é a mãe de todas as ciências. Aprendemos
sobre a importância da filosofia na formação do pensar humano em todas as
vertentes, desde das questões sobre o homem e o universo, até discussões acerca
do amor e da política. Dada a sua importância, deveríamos ter uma educação com
viés filosófico. Ou seja, uma educação que buscasse desenvolver em nós um olhar
crítico para o mundo que nos cerca e o nosso mundo interior. Entretanto, o que
recebemos de forma contrária, é uma educação acrítica e completamente
tecnicista, que tem como função primordial criar soldados bem treinados para o
famoso “mercado de trabalho” ou em uma tradução livre – “campo de batalha do
capitalismo selvagem”.
A
polêmica reforma no ensino médio promovida recentemente pelo Governo Temer, para
muitos – professores, inclusive – é de se temer, com o perdão do trocadilho. Uma
mudança tão significativa na sociedade (já que a educação é ou pelo menos
deveria ser vista como o principal vetor de transformação social) deveria passar
por uma discussão mais profunda, com ampla participação dos principais
interessados, estudantes e professores. O que não ocorreu em momento algum,
mesmo sob fortes protestos dos excluídos da sua própria pauta, levando-nos, até
mesmo, a pensar na nossa fragilidade democrática.
Mas o
fato é que ela foi aprovada e está apta para entrar em prática. E, é bom que se
diga, a educação de fato precisava de mudanças, transformações. Digo mais, não
só no ensino médio, mas na educação como um todo. No entanto, essa reforma vai
tornar a educação melhor em que sentido? No sentido filosófico ou
tecnicista?
Não há
problema em preparar os jovens para o mercado de trabalho, mas uma educação
transformadora, vai muito além disso. Dessa maneira, por mais que a reforma no
ensino médio torne a educação mais eficaz na preparação técnica dos jovens,
sobretudo, por haver uma divisão do trabalho, digo, estudo em áreas do
conhecimento específicas; ela apagará totalmente a brasa da esperança de uma
educação crítica. Isso ocorrerá porque não há como pensar filosoficamente sem
que todas as áreas do conhecimento possuam a mesma importância e valorização,
sem interdisciplinaridade (a base no Enem), sem a provocação para o aluno e que
a partir disso o levará ao aprofundamento de certa área ou certo saber que mais
lhe apraz e o faz se sentir vivo enquanto sujeito individual e
coletivo.
Ao
subjugar alguns saberes, como filosofia, sociologia e história, mas não apenas
estes, a um patamar de inferioridade em relação à língua portuguesa e inglês,
por exemplo, a mensagem que o governo passa é de que o importante é saber fazer
alguma coisa, isto é, aprender os “comos”, deixando de lados os “porquês”. Isso
me lembra o mundo distópico de Fahrenheit 451 de Ray Bradbury, em que os livros
e todo o pensamento crítico e poético incutido neles são queimados, a fim de
haja a manutenção da ordem em uma sociedade tecnicista em que fazer perguntas é
coisa de gente “maluca”.
Sendo
assim, perdemos mais uma oportunidade de promover modificações realmente
significativas na educação brasileira. E não adianta dizer que perguntas não
ajudam ninguém a arrumar um trabalho, já que isso é uma constatação óbvia,
afinal, o que o mercado quer são profissionais excelentes na arte de obedecer,
sem jamais questionar. Mas o que você, caro ser “pensante”, não consegue
perceber é quão necessárias são as perguntas para que se questione todas as
problemáticas existentes na sociedade e, assim, se consiga combater os males na
origem, ao invés de ficar comprando verdades como mentiras, como dizia
Orwell.
Certa
feita foi dito no cinema por um professor que palavras e ideias podem mudar o
mundo. Bom, eu acredito nisso e, portanto, acredito em uma educação filosófica,
em que todos os saberes e todas as ciências sejam importantes e utilizados na
formação de mais do que estudantes, de indivíduos capazes de se perceberem
enquanto agentes sociais imprescindíveis para que o mundo continue em uma rota
evolutiva. Apesar disso, muitos continuarão acreditando que o que precisamos
mesmo é de mais soldados capazes de manter o campo de batalha intacto, protegido
e sem ataques. Assim, só me restam as palavras de Símon Bolívar, duras e mais do
que nunca, verdadeiras, já que: “Um povo ignorante é o instrumento cego da sua
própria destruição. ”
Por:
Erick Morais Morais
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