segunda-feira, 30 de julho de 2018

Regras e limites: quando negociar e quando impor?

Vamos deixar uma coisa bem clara: nós pais, adultos, decidimos e ditamos as regras. Os filhos, crianças, obedecem e cumprem o que for determinado. Parece autoritário? Podemos amenizar. Nós, adultos, chamamos os filhos para uma conversa e, junto com eles, após ouvi-los e expormos os nossos argumentos, determinamos o que será realizado. Estamos todos de acordo?


Pois bem. E quando o que está em jogo é o futuro da criança, a escolha da escola, dos cursos extras e esportes nos quais ela será inscrita, temos o direito de impor o que achamos o que é melhor para ela ou devemos deixá-la livre para decidir por si mesma de acordo com suas vontades? Está aberto o debate.


No post “O poder de escolha e onde ele pode nos levar”, contei que impus o estudo diário de teclado a uma Ana Beatriz não tão fã assim de praticar (prefere mil vezes alimentar seu ovo virtual à la Tamagotchi no Ipad e montar cidades no Fantasy Town). Alguns pais argumentaram que talvez ela não esteja suficientemente motivada, prefira outro instrumento ou, ainda, que obrigá-la a estudar algo que não gosta vai traumatizá-la, fazendo-a odiar teclado. Armazene essas informações.


Talvez tenha faltado dizer que já experimentamos de tudo. Ana Bia é eclética. Aos 9 anos, tem no currículo atividades extras de natação, balé, iniciação musical, acrobacia aérea, dança criativa, teatro, ginástica rítmica, ginástica artística e, este ano, as novidades coral, teclado e inglês. Na lista dos seus quereres ainda constam: xadrez, “Mamãe, me inscreve? Gosto tanto de jogar com a Malu”, robótica, “A Fulana é a única menina da turma que faz, eu queria também”, vôlei, “É muito, muito legal!”, violão, “Eu quero ser cantora sertaneja, preciso aprender violão”, tênis e francês.


Não, ela não fez todos os cursos ao mesmo tempo. Foi um entra e sai dos diabos. O teclado ela queria muito, muito mesmo. Não quer mais. Teatro fez um ano, pediu para sair, este ano quis voltar, voltou. Natação já parou várias vezes por diferentes motivos. Balé, idem: em Porto Alegre amava, no Rio, odiou a nova escola e pediu para sair. Entrou na dança aérea, uma espécie de acrobacia com tecidos, se apaixonou. Cursou dois anos, viemos para São Paulo, parou. Para compensar, inscreveu-se nas ginásticas rítmica e artística, não curtiu a primeira, optou pela segunda e segue firme. Muito bem.


Experimentar faz bem e até agora fui bem condescendente com seus apelos e ela com as nossas mudanças de cidade. Conversamos bastante, medimos prós e contras e, em geral, Ana Bia acata bem meus argumentos se dispondo a tentar, eu cedo quando percebo que seu desgosto é genuíno. E lá se foi a primeira infância nessa adorável montanha-russa de experimentações.


Agora, acredito que já tenho um panorama claro do que ela gosta, não gosta, tem aptidão ou não. Enxergo o cerne dos problemas e vontades de desistência e o que é o melhor para ela. Como no ano passado, quando implorou dezenas de vezes para que eu a trocasse de escola. Estava claro para mim que a escola não era o problema, mas situações desagradáveis vividas ali. Mudou a turma, mudaram as amigas, este ano está adorando, idolatrando o colégio, não quer faltar nem quando está doente.


Nós, pais, temos que desenvolver esse olho clínico, saber avaliar o que é um desejo ou problema momentâneo, impulsivo, ou uma questão realmente prejudicial. Temos que ajudar nossos filhos, também, a criar esse discernimento. Chutar o balde é mais fácil, mas não é a melhor solução. Abandonar o teclado porque está difícil conciliar a mão dos acordes com a da harmonia não a levará a tocar perfeitamente violão, tão logo troque um instrumento pelo outro. Em ambos os casos, a perfeição virá com o treino. Não há milagre.


O que estou fazendo é dificultando a desistência, incentivando a persistência, exigindo retorno de investimento, comprometimento. Fiz um trato com a Bia: se até o fim do ano ela se dedicar ao teclado, mostrar esforço, superação e, principalmente, constância, eu a matriculo no violão. E prometi: vou fazer de tudo para que consiga trocar de instrumento. Mas não, não negocio os termos. Nem vou facilitar.


O que aplico aqui em casa como princípios e regras não negociáveis:


- Você pode fazer o que quiser nessa vida, mas tem que fazer bem feito. Dar o melhor de si se aplica também ao que você não tem escolha. Adote a excelência como padrão.

- Foque e faça bem feito da primeira vez. Fazer de qualquer jeito é pedir para ter retrabalho e é uma grande perda de tempo. Poupe-se. A vida é curta.


- O ideal (assim com o sucesso) não é facilmente alcançável, você precisa arregaçar as mangas e lutar por ele. Ninguém vai fazer isso por você.


- Quer aplauso? Mereça-o.


- O que você já sabe fazer sozinha, faça-o. Se não souber, tente. Se realmente não conseguir, conte comigo. Não peça ajuda sem se esforçar antes.


- Errar é humano, só não erra quem não tenta. Mas não aceite um erro como um limitador. Para acertar, descarte todas as tentativas que não deram certo. Seja criativa e, se possível, divirta-se no processo.


- Dificuldades existirão na escola, no mercado profissional, no casamento. Enfrentá-las e superá-las é um caminho engrandecedor. Desistir é tão somente um caminho.


- O conhecimento está ao alcance de todos. Mas só aqueles que o procuram, encontram-no.


- Motivação não cai do céu nem vem de fora. Encontre-a dentro de você. Esforce-se para se motivar, tente de várias maneiras se adaptar ao que você não gosta ou ao que não é tão fácil quanto gostaria, não espere que a mamãe aqui (ou quem quer que seja) pegue dois pompons e fique rebolando e pulando do seu lado para então se mexer.


- Quer pense que pode, quer pense que não pode, você está certa.


- Não está gostando? Dê-se um prazo. Longo. Não uma ou duas aulas, não um ou dois meses, mas um ano, 365 dias. Teste seus limites, dê o seu melhor, supere-se, vá além. A vida é uma escadaria sem fim. Viva degrau por degrau. E encontre na subida motivos para ser feliz.


E você, quais são as regras inegociáveis na sua casa?

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