Receita
para tornar o aprendizado em sala de aula mais eficiente inclui professor
interessado e turmas menores e mais
homogêneas
Paola
Carriel Pesquisadores de quatro universidades brasileiras
analisaram 165 estudos nacionais e internacionais sobre aprendizado escolar e
concluíram que o fator mais importante em sala de aula é a qualidade do
professor. Uma das análises revelou que um bom docente aumenta em até 68% a
proficiência do aluno. O levantamento faz parte de uma iniciativa do movimento
Todos pela Educação e do Instituto Ayrton Senna, cujo objetivo é apontar
caminhos para a melhoria do ensino no Brasil. Hoje, os estudantes brasileiros
alcançam resultados negativos tanto em avaliações nacionais como internacionais.
Alunos da 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental e do 3.º ano do ensino médio
não atingem metas mínimas. Na média nacional, nenhuma série consegue ter ao
menos 35% da turma com o aprendizado correto para a
idade.
O
tamanho e a composição da turma ocupam o segundo e terceiro lugar,
respectivamente, no ranking dos fatores que mais influenciam a capacidade de
aprendizado. Classes menores permitem atendimento individualizado e turmas
homogêneas – com alunos da mesma idade e desempenho semelhante – facilitam o
preparo da aula e a exposição do conteúdo. Em seguida vem o calendário escolar –
com fatores como o número de dias letivos e de faltas dos docentes – e a
experiência do professor em sala de aula. Conselheiro do Todos pela Educação,
Mozart Neves Ramos explica que é da qualidade do docente que parte toda a
aprendizagem. “O professor é o elemento central, é dele que depende a capacidade
não apenas de ensinar, mas de provocar e estimular.” Outro ponto ressaltado
durante o levantamento é a importância do engajamento da comunidade escolar e da
família, o que mostra que não são somente fatores objetivos que influenciam este
processo. Ramos lembra que, após os resultados do Ideb de 2007, o Unicef fez um
levantamento e comprovou que os melhores colégios eram aqueles com
alto poder de mobilização. A infraestrutura e os recursos
pedagógicos são fundamentais para o aprendizado, mas o levantamento realizado
pelos pesquisadores demonstra que ainda faltam estudos para avaliar os impactos
negativos de uma escola sem acesso à rede de esgoto ou quadra poliesportiva, por
exemplo.
Consultor
da Unesco e professor da Universidade de Brasília (UNB), Célio da Cunha
argumenta que a escola precisa de infraestrutura básica para garantir a
aprendizagem. “Para incentivar a leitura é preciso uma biblioteca e o estudante
precisa também ter acesso a novas tecnologias. Por outro lado, como estudar em
uma sala que não tem ventilação adequada?”, questiona. O levantamento confirmou
que questões simples, como dever de casa e atividades extracurriculares, são
importantes no aprendizado, embora ainda faltem pesquisas nestas áreas. No caso
do dever, por exemplo, a eficiência é ainda maior quando o docente corrige a
tarefa. Pedagoga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUCPR), Evelise Portilho afirma que a aprendizagem não ocorre somente no
ambiente formal. Por isso, o dever e outras atividades podem ser decisivos.
“Isso auxilia o estudante a buscar outras estratégias e caminhos que vão além da
sala de aula.”
Bom
exemplo - Apucarana, no Norte do estado, parece ter encontrado o caminho para
garantir o aprendizado mínimo de todos os estudantes da rede pública. Em 2009, a
nota do Ideb do município alcançou seis, meta estimada pelo governo federal para
o Brasil apenas em 2022. Todos os 10.238 alunos ficam em período integral,
projeto que começou a ser implantado em 2001. Os gestores investem 32% da
arrecadação em educação, sete pontos porcentuais a mais do que estipula a
Constituição. Claudio Silva, responsável pela autarquia de educação de
Apucarana, explica que o resultado mais positivo é a equidade
da rede. Hoje 60% das escolas estão na média ou acima de seis, 29%
estão a meio ponto da meta e apenas 10% estão um ponto atrás. “É o resultado de
muito esforço. Para os professores, o maior ganho é a
autoestima.”
Pesquisa
reduz importância da titulação acadêmica - Os mais de 150 estudos analisados
desmitificam algumas ideias de senso comum sobre a figura do professor, entre
elas a relação entre titulação acadêmica e desempenho. Um docente formado nas
melhores universidades traz impactos positivos, mas a mesma correlação não
existe com a conclusão ou não de um mestrado, por exemplo. Pesquisas mostram
que, entre estudantes da mesma escola e vindos de ambientes familiares
semelhantes, não há diferença de aprendizado quando o professor tem formação
superior ou completou uma pós-graduação. Conselheiro do Todos pela Educação,
Mozart Neves Ramos explica que uma das possibilidades é que há um descompasso
entre o que é ensinado nas universidades e o que é exigido para os alunos da
educação básica, por isso não há um impacto
direto.
Motivação
- Outra hipótese é que as pesquisas existentes não conseguem mensurar a
motivação dos docentes. Se um determinado professor tem o magistério como
primeira opção certamente será melhor que alguém lecionando por simples falta de
alternativa profissional, ainda que este tenha titulação acadêmica maior. Por
fim, uma última alternativa é que estabilidade, segurança e melhor remuneração
oferecidas a quem tem maior titulação possa ter impacto negativo sobre o esforço
do professor em sala de aula. “De fato, qualquer privilégio definido segundo o
nível educacional, em particular a diferença de remuneração, pode também servir
de desestímulo ao esforço dos professores”, dizem os pesquisadores do Todos
pela Educação no documento.
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