Numa mesa
debruçada na nossa alçada recorrente, contamos histórias já vividas, teorizações
sobre o inicio, meio e fim da existência, e de todos os porquês que lhe são
subjacentes. No inicio do nosso fim, contávamos com os pontos nos traços que
mais nos importavam, conversa que puxa conversa, numa elevação exponencial de
nossa infantilidade, mergulhada numa chama imensa, num tom que rumava ás
bebedeiras infernais de cerveja e de risadas pelo entrever de tudo isso mesmo.
Longas tardes, manhas ou mesmo noites de pura conversa sobre tudo e sobre nada,
efeito de outro tanto de amor e carinho. Essa emancipada, a vontade de nos
irmos, de nos saldarmos a outro dia, e então, a uma outra conversa. Mesa
utilizada para os engates, bem sei, fizeste parte de alguns, tu próprio pujante
por isso meu amigo. Bem tu o sabes o quanto a nossa amizade era importante. Ou
se calhar não, se calhar pudesse ao invés de, nunca ter pensado sobre o
pensamento, sobre a essência de algo puder ser algo sem esse mesmo algo existir
ou pensar-se que pode existir e deixar de o ser e, o mais engraçado, porque
assim mesmo a vida o é. Mas não importa, sei bem neste momento, sei mais que
ninguém, que a vontade de te abraçar e perguntar pela tua vida e por esses
momentos, um mero relembrar diga-se, caso haja mais um pouco de tempo, tirando
as eventualidades da vida, um pouco mais de algo a que nos possamos agarrar no
futuro. Esse mesmo, eu luto, por mim, por ti, por todos os que já se apoiaram
nessas cadeiras gastas e sujas pelo tempo, cadeiras que desaparecem por falta
desse algo, um apoio que digna a passagem de uma margem a outra, de um contexto
ao outro, de um mundo para outro. Mas como lidar com essa subjetividade,
pergunta-se, algo, dentro desse algo, se enumera ao arquétipo de um
entendimento, de um colapso cerebral por ler tal semelhante enunciado. Também eu
os tive, sabes, por vicissitudes da vida, apontou este retrato, tal que eu os
tive mesmo, ainda no mês passado houve o esgotamento que me ia derrubando,
inacabado tempo que sustêm a linha ténue do que sentimos, existimos e o porque
de tudo não passar de encontros dentro de desencontros. Pois bem, sabes ainda,
um longo e moroso processo de identificação que me importunou a sanidade,
atirando para um poço depressivo pelo qual luto á sensivelmente três anos, mas
tal não é meramente importante quando comparado face ao frio que a cadeira
apresenta. Tal não se compara ao não ter estado presente quando devia, ao fumar
o cigarro, ou outras coisas menos frequentes e legais. Tudo bem, aceito tal
ponto de vista, não tenho de me justificar, mas então, nesse sentido, nem tu
tens de ignorar ou dizer simplesmente o vazio silencioso. Fica tudo bem meu
amigo. Eu espero por um novo encontro, fico na sombra observando, fico na paz de
alma, isto porque, neste tempo tão ausente, construi algo que dificilmente algum
dia, jamais alguém, poderá destruir, a minha vontade e força de viver
reorientadas para a felicidade e ânsia de bem fazer em prol de algo. Agora, na
minha mão, se encontra o desejo de te fazer chegar esta carta, rápida no seu
ímpeto, eficaz na sua força e fluidez, espero que a escrita te embale. E então,
a amizade é isto mesmo, uma mera teorização sobre algo que constrói um outro
algo, que liga a subjetividade de duas, ou mais, pessoas sobre um outro algo, um
fabricado a laia da junção dos outros dois.
Fica
descansado meu amigo, eu sei que o chão continua no mesmo sítio. Nunca esqueças
é a compreensão do significado disso mesmo, nem contudo, e mais importante, da
minha ausência. Pensa. Talvez não tenha passado um tanto ou outra
demora.
João de
Almeida
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