Nós
vivemos de criar hábitos, dos mais fúteis aos mais complexos, daqueles que
precisam ser tratados pela psicologia, ou daqueles que subitamente acabam e nos
deixam um vazio, como se uma parte nossa muito importante fosse ao
óbito.
É
engraçado como atribuímos o nosso bem-estar ao hábito, principalmente quando o
hábito faz parte de uma rotina que nos faz bem e que nos traz um prazer
corriqueiro e simples. Por exemplo, a leitura. Que atire a primeira pedra quem
nunca leu um livro, tão bom, mas tão bom que ao terminá-lo sente um vazio? Dá
pela falta daquela história e da complexidade da teia que se desenrola entre as
personagens ou do enredo do tal livro? Querendo ou não, é a morte de um hábito.
Ler aquela história, estar imerso naquela história, torna-se habitual. O Romeu
que quer estar com Julieta, o Príncipe que nos ensina ou o Mago que impede a
passagem do mal. Nos acostumamos a eles, e não queremos que se vão quando se
vira a última página do livro. E esse até pode ser um hábito considerado
complexo, uma vez que a nossa imersão e envolvimento com a história, não se dá
da mesma forma com todos os livros, pelo contrário, em muitas vezes a
dificuldade em se familiarizar com a nova história literalmente nos "brocha" e
abandonamos aqueles personagens e aquele enredo antes de transformá-los em
habituais.
Ora, e os
nossos hábitos materiais? Aqueles como fazer uma coleção, comprar o jornal
sempre a mesma banca, abastecer o carro sempre no mesmo posto. Coisas diárias,
simples. Mas que quando mudam, sobretudo, mudam contra a nossa vontade, nos
lança ao inexplicável. Terminei a coleção: okay, não faz sentido ter outra e o
que fazer com esta? A banca fechou: se não for da Banca do Seu João, não faz
sentido nenhum comprar o jornal a outro lugar. Entende? São alguns hábitos a que
nos damos o luxo, que nos prendem seja por conveniência ou familiaridade, sem
motivo algum.
Hoje, eu
terminei o meu álbum da Copa do Mundo. E subitamente senti-me assim. Vazio.
Olhei para o álbum, com todos aqueles rostos e figurinhas brilhantes, mas e
então? Com que sentido? Não faz sentido algum.
O ponto
é, como em tantos hábitos que acabamos nos submetendo, fora estes banais e
cotidianos, existem tantos outros hábitos, relacionados a vícios, comportamentos
e atitudes que não fazem realmente sentido algum mantermos. É curioso que quando
nos deparamos com isso, o quanto aqueles hábitos são vazios de significado,
sentimos a necessidade de mudá-los, de eliminá-los, como quem termina um livro,
como quem termina uma coleção ou como quem passa a abastecer em outro posto.
Os
hábitos, sobretudo os de pensamento e de comportamento, se tornam tão
corriqueiros, que quando são negativos a nossa saúde e bem-estar, em todas as
esferas, tanto sociais, econômicas e até mesmo espirituais, não nos apercebemos
até ser tarde demais.
Tarde
demais para a mudança ou para criar novos hábitos, que por bem ou por mal, se
criam. Até mesmo a mudança é um hábito. Evitar a mesmice, é um hábito. Tudo
aquilo a que nos acostumamos, ou tomamos por certeza, se tornam hábitos. Contra
ou a favor da nossa vontade, nossos hábitos também dizem muito sobre quem
realmente somos, mais ainda do que aquilo que pensamos ser.
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