Cerveja: o transgênico que você bebe? Sem informar consumidores, Ambev, Itaipava, Kaiser e outras marcas trocam cevada pelo milho e podem estar levando à ingestão inconsciente de OGMs.
Vamos
falar sobre cerveja. Vamos falar sobre o Brasil, que é o 3º maior produtor de
cerveja do mundo, com 86,7 bilhões de litros vendidos ao ano e que transformou
um simples ato de consumo num ritual presente nos corações e mentes de quem quer
deixar os problemas de lado ou, simplesmente, socializar.
Não se
sabe muito bem onde a cerveja surgiu, mas sua cultura remete a povos antigos.
Até mesmo Platão já criou uma máxima, enquanto degustava uma cerveja nos
arredores do Partenon quando disse: “era um homem sábio aquele que inventou
a cerveja”.
E o que
mudou de lá pra cá? Jesus Cristo, grandes navegações, revolução industrial,
segunda guerra mundial, expansão do capitalismo… Muita coisa aconteceu e as
mudanças foram vistas em todo lugar, inclusive dentro do copo. Hoje a cerveja é
muito diferente daquela imaginada pelo duque Guilherme VI, que em 1516,
antecipando uma calamidade pública, decretou na Bavieira que cerveja era
somente, e tão somente, água, malte e lúpulo.
Acontece
que em 2012, pesquisadores brasileiros ganharam o mundo com a publicação de um
artigo científico no Journal of Food Composition and Analysis, indicando que as
cervejas mais vendidas por aqui, ao invés de malte de cevada, são feitas de
milho.
Antarctica,
Bohemia, Brahma, Itaipava, Kaiser, Skol e todas aquelas em que consta como
ingrediente “cereais não maltados”, não são tão puras como as da
Baviera, mas estão de acordo com a legislação brasileira, que permite a
substituição de até 45% do malte de cevada por outra fonte de carboidratos mais
barata.
Agora
pense na quantidade de cerveja que você já tomou e na quantidade de milho que
ela continha, principalmente a partir de 16 de maio de 2007.
Foi nessa
data que a CNTBio inaugurou a liberação da comercialização do milho transgênico
no Brasil. Hoje já temos 18 espécies desses milhos mutantes produzidos por
Monsanto, Syngenta, Basf, Bayer, Dow Agrosciences e Dupont, cujo faturamento
somado é maior que o PIB de países como Chile, Portugal e
Irlanda.
Tudo bem,
mas e daí?
E daí que
ainda não há estudos que assegurem que esse milho criado em laboratório seja
saudável para o consumo humano e para o equilíbrio do meio ambiente. Aliás, no
ano passado um grupo de cientistas independentes liderados pelo professor de
biologia molecular da Universidade de Caen, Gilles-Éric Séralini, balançou os
lobistas dessas multinacionais com o teste do milho transgênico NK603 em ratos:
se fossem alimentados com esse milho em um período maior que três meses, tumores
cancerígenos horrendos surgiam rapidamente nas pobres cobaias. O pior é que o
poder dessas multinacionais é tão grande, que o estudo foi desclassificado pela
editora da revista por pressões de um novo diretor editorial, que tinha a
Monsanto como seu empregador anterior.
Além
disso, há um movimento mundial contra os transgênicos e o Brasil é um de seus
maiores alvos. Não é para menos, nós somos o segundo maior produtor de
transgênicos do mundo, mais da metade do território brasileiro destinado à
agricultura é ocupada por essa controversa tecnologia. Na safra de 2013 do total
de milho produzido no país, 89,9% era transgênico. (Todos esses dados são
divulgados pelas próprias empresas para mostrar como o seu negócio está
crescendo)
Enquanto
isso as cervejarias vão “adequando seu produto ao paladar do
brasileiro” pedindo para bebermos a cerveja somente quando um desenho
impresso na latinha estiver colorido, disfarçando a baixa qualidade que, segundo
elas, nós exigimos. O que seria isso se não adaptar o nosso paladar à presença
crescente do milho?
Da
próxima vez que você tomar uma cervejinha e passar o dia seguinte reinando no
banheiro, já tem mais uma justificativa: “foi o
milho”.
Dá um
frio na barriga, não? Pois então tente questionar a Ambev, quem sabe eles não
estão usando os 10,1% de milho não transgênico? O atendimento do SAC pode ser
mais atencioso do que a informação do rótulo, que se resume a dizer:
“ingredientes: água, cereais não maltados, lúpulo e antioxidante INS
316”.
Vai uma,
bem gelada?
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