Futebol,
política e religião. Estes três temas costumam gerar polêmicas e discórdias.
Mesmo que a gente insista em dizer que isso não se discute, estamos
frequentemente trazendo esses temas em nossas conversas. Isso quer dizer que
somos ávidos por dar nossos palpites, externalizar nossas ideias e nossas
convicções, passar adiante nossa percepção com relação a temas que permeiam
nosso dia a dia.
Mas por
que os desentendimentos surgem? Grande parte das pessoas tem a impressão de que
quando alguém discorda de seu ponto de vista, ela própria está sendo
rejeitada.“Grande parte das pessoas
tem a impressão de que quando alguém discorda de seu ponto de vista, ela própria
está sendo rejeitada.“
Dificilmente
as pessoas se dão conta de que se alguém discorda delas, é porque elas também
estão discordando do outro e isso não tem nada a ver com gostar mais ou menos
daquela pessoa, tem a ver com pontos de vista diferentes.
É certo
que existem pessoas que se inflamam quando defendem suas ideias, colocam tanta
paixão em seus discursos que há a impressão de que elas querem brigar. Algumas
querem, de fato, convencer seu interlocutor de que sua opinião é a mais acertada
e é aí que os ânimos se acirram e podem desembocar numa discussão mais acalorada
ou, quando se trata de pessoas mais imaturas, pode acontecer de brigarem de
verdade.
FUTEBOL TENDE A ESTIMULAR BRINCADEIRAS SAUDÁVEIS
Entre
amigos ou grupo de colegas, o futebol é a conversa mais amena. Normalmente as
brincadeiras são muitas, um desqualifica o time do outro para na semana seguinte
ser a vez do colega cujo time ganhou a partida brincar com a ineficiência do
time do amigo. E as conversas se estendem, se aprofundam, fala-se de escalação
de time, do técnico, da personalidade de jogadores, do juiz, do “apito amigo”,
mas no fim das contas os encontros acabam num chope sem interferir na amizade.
Dificilmente conhecemos um caso de amizade que se desfaz porque as pessoas
torcem para times diferentes ou porque um concorda e o outro discorda da
substituição que o técnico fez em campo. Casos extremos em que torcidas partem
para a violência, geralmente dentro do estádio, não têm nada a ver com este
tema, uma vez que a violência física está atrelada a um tipo de comportamento em
desequilíbrio que nem tem a ver com o futebol em si, mas com outros fatores e
motivações que não passam por conversar sobre o assunto.
POLÍTICA: PESSOAS MAIS ANTENADAS OU INFLEXÍVEIS?
Para
nossa sorte, hoje conversamos sobre política em todos os lugares. Isso mostra um
povo mais antenado e consciente, que vem adquirindo uma visão mais macro de
mundo. Saímos do silêncio da ditadura, passamos por uma fase de transição e com
a democracia plenamente estabelecida estamos conquistando um nível de
politização importante que nos faz cidadãos mais atuantes e participativos,
antenados com os problemas do país. Mas o que temos visto nas redes sociais e em
grupos de amigos são verdadeiros rachas de ideias e posicionamentos que têm
culminado em brigas e até em rompimentos de amizade. Eis aí um bom exemplo da
confusão que se instala entre discutir ideias e discutir pessoas. Ora, se não
conseguimos silenciar porque o tema é sedutor, porque temos cada um nossas
convicções e desejamos partilhá-las e chegamos à conclusão que política se
discute também, como alcançar a serenidade num embate de ideias sem partir para
ofensas ou sem desqualificar seu interlocutor?
DISCUTIR RELIGIÕES SIGNIFICA DISCUTIR SOBRE COMO CADA UM EXERCE SUA FÉ
Se
futebol e política são temas que podem produzir identificação, concordâncias ou
discordâncias, união ou rompimentos, o tema religião está numa categoria mais
delicada, pois independe de gosto, opinião ou ideologia, mas de crença. É algo
muito mais subjetivo que mexe com questões não mensuráveis, não palpáveis, não
visíveis. A escolha de uma religião dá-se pela fé, ou seja, por uma convicção
que fala diretamente à alma, a crenças aprendidas e aceitas, ou como resultado
de questionamentos profundos que independem da razão.
Como
quase tudo na vida, a escolha de uma religião ocorre por conveniência. Não vamos
entender aqui a palavra conveniência como oportunismo, mas como um conceito que
vai ao encontro de nossos anseios e necessidades pessoais. Acreditar num único
Deus ou em vários, por exemplo, atende a uma certa “lógica” que depende da
cultura, do que faz sentido para cada um. Os indígenas, por exemplo, fazem sua
conexão com o divino através do Deus trovão, do Deus sol e muitas culturas
indígenas veem em cada animal um ser divino de quem emprestam os poderes para
entrar em contato com suas próprias virtudes. Existem religiões que entendem
Deus como uma entidade espiritual e outras que se utilizam de intercessores como
santos ou orixás, cada qual com suas peculiaridades, para fazer esse movimento
de “re-ligare”, ou seja, unir novamente o homem a Deus.
Discutir
religiões é discutir a forma pela qual cada um exerce sua fé. Isso não deixa de
ser um exercício que busca novos olhares ou que busca entender como o outro
compreende ou exercita sua fé. Muitas pessoas mudam de religião ao longo da vida
porque pensaram a respeito, porque entenderam que a maneira de vivenciar seu
universo espiritual deixou de fazer sentido num determinado momento e
encontraram outra forma que lhe era mais conveniente ou convincente de
compreender Deus e a vida espiritual. Mudam de religião porque se sentem mais
confortáveis num novo sistema de crença.
Escolher
não seguir os dogmas de uma religião não quer dizer necessariamente que não se
possa viver a espiritualidade. Muitas pessoas acreditam em Deus ou têm sua forma
particular de entender Deus sem que façam parte de um grupo religioso. Até mesmo
o ateísmo é um caminho para se discutir Deus, por mais paradoxal que possa
parecer.
DEBATES DEVEM OCORRER SEM JULGAMENTOS
Em todas
as discussões polêmicas, o mais difícil é não julgar. Mas é na discussão de
religião que repousa a maior dificuldade de aceitação dos diferentes exercícios
de fé. Será que existe certo e errado? O que é certo para uns pode não ser para
outros, o que é confortável e se acomoda bem nos gostos, ideais ou crenças de
uns, pode ser o contrário para outros.
Bom seria
se todos abríssemos mais nossas mentes e corações para aceitar as diferenças. É
fácil conviver quando há identidade de opiniões, mas o verdadeiro exercício de
civilidade, generosidade e aceitação reside na compreensão de que somos todos
mestres uns dos outros. Não é preciso concordar com uma opinião diferente da
sua, não é preciso abrir mão de suas convicções. Ouvir, refletir e analisar sem
preconceitos permite discussões saudáveis e produtivas que promovem o
crescimento, o amadurecimento e uma convivência mais harmoniosa nesta comunidade
humana, tão carente de gentilezas e paz.
Assim,
tudo se discute, até futebol, política e religião. Havendo respeito e
consideração pelos pontos de vista diferentes, havendo a compreensão de que
discordar de uma opinião não se trata de uma agressão pessoal, mas apenas uma
forma diferente de pensar, muitas amizades serão preservadas e muito se pode
aprender e trocar.
Fonte: M de Mulher
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