Eu achava que era uma característica particular, mas conversando com outras mães constatei que é um problema universal nas crianças de hoje: começar e não finalizar. O pijama é dobrado, mas não guardado. O jogo é montado (tabuleiros e peças), mas não jogado. O aplicativo é baixado e deixado de lado. Às vezes até mesmo uma frase fica incompleta no ar, em meio a pensamentos voadores. “O que eu ia falar mesmo?”, ouço com frequência. O que muito me assombra, afinal, problemas de memória não são típicos dessa idade.
O analista de dados e blogueiro Paul Lamere, especializado em música e tecnologia, faz uma análise interessantíssima sobre o comportamento atual dos jovens. Nas palavras dele: “O botão de pular (Skip) é agora uma grande parte da experiência geral de escuta. Não gosta de uma música? Passe para a próxima. Nunca ouviu? Passe para a próxima. Já ouviu? Passe adiante. O Skip ainda desempenha um papel na forma como nós pagamos por música. Na maioria dos serviços de assinatura, se quiser a liberdade de pular uma faixa sempre que quiser, você precisa ser assinante premium, caso contrário será limitado a uma meia-dúzia de pulos por hora”. Ou seja, nem as canções estão sendo ouvidas até o final.
Ele teve acesso a dados do Spotify, serviço de música digital, sobre o quão frequente as pessoas “pulam” de uma música para outra. Chegou a números impressionantes: 24,14% usam o botão “skip” nos primeiros 5 segundos. Ou seja, mal começam a ouvir e já trocam. Aguentam até 10 segundos de uma mesma faixa, 28,97% e até 30 segundos, 35,05% dos ouvintes. E agora pasmem: 48.6 % (quase a metade!) dos usuários do site desistem da música antes dela acabar. E passam para a próxima. Segundo Lamere, os jovens adolescentes têm a maior taxa de “salto”, bem acima dos 50%.
Estaremos todos viciados em novidades a ponto de não sabermos mais viver o momento? Qual a diferença entre olharmos freneticamente para todos os lados sem focar em nada e sermos cegos?
É um círculo vicioso: a falta de foco gera o costume de fazer pela metade que gera a preguiça de fazer por inteiro e com qualidade. Resultado? Retrabalho. Perde-se o dobro do tempo para refazer algo que poderia estar pronto (e bem feito) logo da primeira vez. Outra consequência da ansiedade pelo que está por vir: uma constante insatisfação. Se a gente nunca termina nada, nada é fruto do nosso trabalho, logo, não temos do que nos orgulhar. Talvez por isso haja, na geração dos nossos filhos, essa sede por aplausos e elogios gratuitos. E nós os aplaudimos!
Segundo a chinesa-americana Amy Chua, em seu polêmico livro “O Grito de Guerra da Mãe Tigre”, a diferença entre mães orientais e ocidentais é que para as primeiras a infância é um período de treinamento e para as ocidentais, uma fase idílica onde deve-se deixar as crianças curtirem à vontade. Bem, não sou chinesa, mas adotei em parte o conceito do treinamento. No quesito ‘foco’, estou em plena campanha por melhorias aqui em casa. Ipad e TV ao mesmo tempo? Não pode. Tem mais de duas coisas pra fazer e não sabe por onde começar? Anote e siga a lista. Recebeu uma missão e sentiu impulso de desviar? Repita em voz alta o que é para ser feito e só silencie depois de cumprir.
Para não colocar pimenta apenas nos olhos dos outros, parei para observar a mim mesma. Quantas vezes, ao longo do dia, desfoco para dar uma conferida nas redes sociais e e-mails? Várias. Tudo bem, é instrumento de trabalho. Mas não tem desculpa, é distração igual: além das mensagens profissionais trocadas, em geral escorrego para dar uma olhada nos posts dos amigos, interagir, comentar. Quanto tempo do meu dia útil perco nessa distração? E do mês? Melhor ficar atenta. E não só cobrar, mas também dar o exemplo.
E na sua casa, como é?
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