Essa película em que está estrelando Eddie Murphy é uma bela comédia onde um agente literário (procuro um que me apoie um dia...) se vê como um homem rico e de sucesso, com bela esposa e uma filhinha recém nascida, procurando entender o mundo sem qualquer transcendência ou espiritualidade, sendo ainda um homem que não controla a língua, por demasiado loquaz. Assim encontra ele um místico e decide conquistá-lo para ganhar dinheiro, pedindo que esse escreva um livro. Ocorre que ele lhe escreve um de apenas 5 páginas e ainda revela uma árvore que riria mudar a sua vida, com potencial mágico.
Essa árvore que encontra o grande agente literário o revela um segredo: para cada palavra que ele fala ela perde uma folha, de modo que ao fim morreria e levaria o Murphy junto com ela. Desesperado ele tenta procurar linguagem não verbal e se manter quieto, e assim perde a esposa e o emprego, e praticamente tudo, chegando ao desespero. A árvore fica clara como uma árvore da vida, onde está Deus, não sendo Este, mas revelando a possibilidade dessa dimensão no homem, sem a qual não possui alimento espiritual. A comédia assim ganha grande conteúdo ao nos levar a um cinema mudo, já tentado por Mr Bean em seus seriados e filmes, o que coloca a qualidade uma forma de citação de Chaplin.
Não gosto muito de comédias, mas os filmes de Murphy sempre tiveram um diferencial, e via eu em seus policiais dos anos 80 os melhores, por misturar essas culturas, trazer muito de saberes orientais e fazer uma ponto com a malandragem da periferia norte-americana. Naqueles havia sempre uma certa inocência, algo com o qual me identifiquei. Aqui no As Mil Palavras parece que se voltou a isso, e assim saímos daqueles clichês de comédia, que muito fazem com base em preconceitos e descriminações, o que não me agrada.
O filme em suas últimas cenas tem boa fotografia, os roteiros estão bem bolados e o elenco leva bem a comédia, o místico convence e as comparações com riqueza e sucesso e seu lado efêmero ficam claros, pois o homem tem de buscar a Deus quando o seu dinheiro não mais serve, e quando perde as pessoas que ama. O centro da história era fazer as pazes com seu pai, o que teve de fazer em âmbito espiritual, e que garantiu paz interior, e o silêncio de sua voz interior falou mais alto, demonstrando o poder das sábias palavras, que não se encontram em loquacidade. Helena Petrovna Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica tem uma obra chamada “A voz do silêncio”, e lá vemos bem essa lógica espiritual superando a material, e na meditação, como na oração, vemos que o silêncio toma poder, e revela que Deus precisa de um vaso vazio para ser preenchido, e o homem moderno com suas mil ocupações não dá espaço para a metafísica adentrar em seu coração.
As Mil palavras, por fim, quase levaram o homem para a ruína, mas para sua graça e superação da desgraça, superou os problemas. Tudo com muito humor. Um filme bom para elevar o astral.
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