Tudo é
mais fácil quando a gente não se sente responsável por ninguém, quando levamos a
vida na flauta, curtindo o momento, em total carpe diem. Uma conhecida minha é
assim, passou a vida sem levar nada a sério, sem assumir coisa alguma, só
reverenciando o próprio prazer. Aí teve câncer. Este seu temperamento
desencanado ajudou-a a passar pela crise. Ela encarou o câncer como uma
chateação, como se fosse uma dor-de-dente, não fez drama, sofreu com muito
comedimento. Por outro lado, agora curada, ela segue no oba-oba, não aprendeu
nada, não amadureceu, não está dando maior valor à vida, continua naquele clima
easy going. Tirou lição nenhuma.
Existem
pessoas que passam batido por tudo, sem esquentar com nada. E existem pessoas
extremamente sensíveis que a tudo dão atenção, que se envolvem profundamente com
o que lhes acontece, seja uma doença, seja uma paixão. No fundo, elas desejariam
ser menos compenetradas, mais leves, porém, quando tentam, metem os pés pelas
mãos, fazem besteira. Por que? Porque é muito difícil mudar nossa própria
natureza. É preciso aceitá-la e respeitá-la. E tentar ser feliz do jeito
que se é.
Muitas
vezes dizemos "eu queria ser mais solta" ou "eu queria ser mais maluco", pois
tudo isso sugere uma certa modernidade, ao contrário da introspecção, do
conservadorismo e de outros comportamentos que se desenvolvem mais para dentro
do que para fora. Moderno é liberar. Careta é reter. E é tanta pressão para
sermos menos claustrofóbicos com nossa própria vida que acabamos nos confundindo
e não raro inventando um personagem que nada tem a ver com a gente.
Ou se é
naturalmente easy going, ou seja, alguém que se deixa levar pela vida, ou se faz
parte do time dos conectados com as ansiedades, desejos e traumas. Eu sou assim,
ligada na tomada. Sempre querendo encontrar uma razão pra tudo. Pessoas como eu
sofrem mais. Se decepcionam mais. Por outro lado, crescemos. Evoluímos.
Amadurecemos. Nada é estático em nossas vidas. Nada é à toa. Tudo ganha uma
compreensão, tudo é degrau, tudo eleva.
É
ótimo ser relax, mas é preciso ter vocação. Não tendo, melhor aceitar que somos
estressadinhos por natureza. Mas há suas compensações.(Martha Medeiros)
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