Não
adianta fugir, o estresse é uma reação natural do nosso corpo a situações tensas
e de nervosismo. Na verdade, momentos estressantes são benéficos, pois eles
melhoram seu desempenho no trabalho e nos relacionamentos. Porém, se
constantemente você vem sentindo seu coração acelerar, os músculos se retesarem
e o suor tomar conta do seu corpo, cuidado! "Atualmente sabe-se que um agente
estressor intenso leva a alterações hormonais e pode ser o desencadeador de
complicações, principalmente diabetes e hipertensão, pelo mecanismo de liberação
crônica do cortisol e das catecolaminas", considera a endocrinologista Milena
Caldato, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia
(SBEM).
Tudo
isso ocorre porque o corpo se prepara para situações em que ele precisa lutar ou
fugir. Isso faz com algumas funções básicas do organismo mudem para poupar e
canalizar nossa energia. "Primeiro há um disparo hormonal do sistema adrenérgico
e depois do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal", explica o cirurgião geral Marcelo
Katayama, instrutor de treinamento com foco em desenvolvimento pessoal e diretor
no Núcleo Ser. Primeiro o hormônio adrenalina é liberado e depois o cortisol, e
eles têm ações diversas no nosso corpo.
Quando o
quadro se torna permanente, porém, isso altera todo o funcionamento do nosso
organismo. Para saber mais sobre quais os problemas associados ao estresse
crônico, confira a seguir como ele repercute em cada parte do nosso
corpo.

Cérebro
Nosso
cérebro funciona basicamente por meio de neurotransmissores, substâncias que são
enviadas de um neurônio ao outro e decodificadas por estruturas chamadas de
receptores. Qualquer desequilíbrio na quantidade ou na recepção dessas
substâncias altera o funcionamento da nossa mente, e esse desequilíbrio químico
é o que leva à diversas doenças mentais.
No caso
do estresse, o cortisol atua em alguns receptores, tendo normalmente um efeito
específico: "o cérebro pode entrar em fadiga, levando a um quadro de
esgotamento", ensina o cirurgião geral Marcelo Katayama, instrutor de
treinamento com foco em desenvolvimento pessoal e diretor no Núcleo Ser.
Sintomas como a dor de cabeça podem aparecer quando o estresse se torna muito
prolongado.
Mas para
o especialista, outra forma de o estresse afetar nossa mente é através da forma
como pensamos. "Os significados que você atribui às situações fazem com que você
enxergue o estímulo como estressor ou não, dessa forma, quem tem pensamento
negativo o tempo inteiro retroalimenta o circuito estressor em um looping",
considera Katayama.
Coração
Quando o estresse bate à porta, a liberação inicial da adrenalina aumenta os batimentos cardíacos e com isso vem a hipertensão. O que não é um problema, se isso ocorre apenas por um momento. Porém, quando o quadro de tensão se torna prolongado, isso causa um estado em que a pressão arterial fica sempre mais elevada. "Além disso, com o tempo o processo favorece deposição de gordura das artérias, endurecendo-as e também favorecendo a aterosclerose, condição que resulta em infarto e AVC", esclarece o cardiologista Carlos Alberto Pastore, diretor do Serviço de Eletrocardiologia Instituto do Coração (Incor) do Hospital das Clínicas da FMUSP. Um estudo chamado Interheart mostrou que o estresse permanente aumenta o risco de infarto na América Latina em 180%.Existem também transtornos mais específicos ligados ao nervosismo e ao coração. "É o caso da doença de Takotsubo ou síndrome do coração partido, em que, após uma perda ou um grande fator estressante, o indivíduo pode apresentar disfunção cardíaca", lembra a cardiologista Luciana Janot, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Metabolismo
Infelizmente o acúmulo de gordura não ocorre apenas nas artérias. "O cortisol aumenta a gordura corporal, causando um quadro de inflamação", comenta o cardiologista Pastore. Além disso, a glicose deixa de ser absorvida pelo tecido adiposo, para se tornar mais disponível no corpo para os músculos, afinal o organismo precisa de energia suficiente para lutar ou fugir. Mas se esses índices ficarem elevados em longo prazo, resultam na maior produção do hormônio insulina, responsável por colocar o açúcar dentro das células. Com o tempo alguns tecidos ficam resistentes a esse hormônio, sendo necessária sua maior quantidade para a absorção da glicose. O resultado é um quadro de resistência à insulina, fator de risco para diabetes tipo 2.A alta da insulina também resulta em uma maior concentração de tecido adiposo no abdômen, tipo de gordura mais perigosa para a saúde. E além disso, o quadro de recuperação do organismo após o estresse resulta em um aumento das triglicérides, células de gordura que circulam pela nossa corrente sanguínea. "Isso porque, quando você queima toda a glicose, o corpo usa a gordura como energia", considera Katayama.
No saldo final, os sintomas de resistência insulínica, acúmulo de gordura abdominal, hipertensão e aumento do índice de triglicérides resultam na chamada síndrome metabólica.
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