Se
quer preservar sua saúde mental em Los Angeles (ou em qualquer grande cidade
americana), você precisa cultivar a arte de ficar acordado. Você tem de aprender
a resistir (com firmeza, não tensamente) às incessantes sugestões hipnóticas do
rádio, dos outdoors, dos filmes e jornais; essas vozes demoníacas que não param
de sussurrar no seu ouvido o que você precisa desejar, o que você precisa temer,
o que você precisa vestir, comer, beber e desfrutar, o que você precisa pensar e
ser. Eles têm uma vida todinha planejada para você -- do berço à sepultura e ao
além -- que seria fácil, fatalmente fácil, aceitá-la. Ao menor vaguear da
atenção, ao menor relaxamento da consciência, e a pálpebra já começa a fechar,
os olhos ficam dispersos, o corpo começa a se mover em obediência aos comandos
do hipnotizador. Acorde, acorde -- antes que você assine aquele contrato de sete
anos, antes que compre aquela casa que você não quer, antes que se case com a
mulher que você secretamente despreza. Não tome esse whisky, ele não vai
resolver seus problemas. Você tem de pensar, discriminar, exercitar seu arbítrio
e julgamento. E você tem de fazer isso, repito, sem ficar tenso, com muita calma
e raciocínio. Pois se você ceder à fúria contra o hipnotizador, se você quebrar
o rádio e rasgar o jornal, tudo o que conseguirá é cair no outro extremo e
fossilizar-se em uma excentricidade insolente.
Fonte: Christopher Isherwood, “Los Angeles”,
publicado em Exhumations(1966).
Nenhum comentário:
Postar um comentário