domingo, 27 de dezembro de 2020

O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você!

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Será assim tão difícil?
Uma amiga europeia que passou alguns meses no Brasil me contou que uma das coisas que ela mais estranhava aqui era o quanto colocávamos Deus nas nossas frases. Graças a Deus, se Deus quiser, fica com Deus, vai com Deus, Deus me livre, Deus te pague, Deus te abençoe.
Qualquer um de nós usa estas frases- mesmo aqueles que não se são muito (ou nada) religiosos. Muitas vezes a gente fala sem pensar. Fala porque faz parte do costume. Mas eu acho bonito. Talvez seja nossa forma de dizer Namastê.
O interessante é pensar que num diálogo entre duas pessoas de religiões diferentes, Deus pode permear a conversa vindo de ambos os lados. Muitas vezes, dois Deuses que não são o mesmo, não se conhecem e não pensam de forma semelhante se encontram em nossas falas, convivem, cumprimentam-se e vão embora.
Seria bom se fizéssemos isso de forma consciente. Se aceitássemos verdadeiramente que o Deus no qual acreditamos respeita e saúda o Deus no qual o outro crê.
Tenho muita dificuldade de entender a ideia de que algum Deus possa ditar atos de marginalização, de agressão, quiçá de morte. Isso tem muito mais cara de homens, de governos e de igrejas do que de Deus. Não conheço os Deuses que habitam as outras pessoas, mas apostaria alto que Deus nenhum quereria isso.
Talvez um dos grandes problemas seja esse: confundir fé, religião, igreja e Estado. Estados e igrejas, historicamente e de forma mais do que comprovada, sempre ditaram atos de violência. As religiões e seus textos, quando distorcidas ou mal interpretadas, também podem ser vistas assim. Mas a fé… A fé me parece tão genuinamente incompatível com a agressão.
Vivemos um momento que beira o caos. Em que Deuses são utilizados das formas mais estranhas. Uma grande confusão entre Deus, armas, fé, petróleo, governos, passado, presente, igrejas, colônias, impérios… Sei lá, acho que Deus nenhum gostaria de ser colocado no meio disso tudo.
E as pessoas generalizam, polarizam e afundam-se cada vez mais na pobreza do maniqueísmo. Tomam a parte pelo todo, confundem conceitos. Querem ver, assim como crianças, um culpado e uma vítima, um mártir e um vilão. Mas não querem estudar, pensar, conversar, analisar. Isso dá muito trabalho. É mais fácil taxar e condenar.
Difícil imaginar que rumo o mundo está tomando. Difícil aceitar nossa impotência, nossa vulnerabilidade, nossas mãos atadas. Mas deveríamos parar de tentar culpar os Deuses. Essa brutalidade toda não tem a ver com eles. Essa brutalidade é exclusividade dos homens. Homens esses que aceitam cada vez menos o Deus que habita no outro, seja ele qual for, e, em nome dessa intolerância se mata e se morre, no oriente e no ocidente, cristãos e muçulmanos, civis e militares. Que tristeza. Deus nenhum gostaria de ver isso.

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