Muitos educadores
apoiam a ideia de que a educação hoje deve ser vista como um processo. E de
fato, o é. Mas, ela não é um processo que busca o desenvolvimento humano, mas
que busca formar trabalhadores. É uma educação vista como processo que busca um
fim. E não poderia ser vista de forma diferente, dada as condições em que esse
sistema educacional que temos hoje foi construído.
A partir do Século XVII e XVIII, com a
sociedade industrial, a educação passa a ser um processo de formação de
trabalhadores. As Revoluções industriais necessitavam de mão de obra. A
transição do Estado Absoluto (teológico) para o Estado Liberal (laico e
burguês), apontou para o sistema educacional como a possibilidade de
instrumentalização do homem da fábrica. O sistema educativo foi criado para
produzir uma força de trabalho, e não para desenvolver a humanidade, a pessoa. O
sistema educacional aliado ao sistema de produção capitalista liberal, fez com
que as pessoas obedeçam e não pensem por si mesmas. Não havia lugar para pensar
na indústria.
A educação então, se cunha como um sistema
reprodutivo, para reproduzir uma certa maneira de ser que temos. É a busca de um
padrão. É a negação da diferença, da diversidade, da abordagem complexa.
Há que ser normal, porque por trás da
normalidade, há um imperativo de conformidade. Esse imperativo está instalado na
categoria do ter. O Ter nos inspira a vontade do querer. É uma mente patriarcal,
voraz. É a hegemonia do querer. Em geral, não sabemos o que se passa com o todo,
pois perdemos a percepção do todo. Essa fragmentação colocou em crise a nossa
sensibilidade, a alteridade, o reconhecimento de si no mundo e no outro.
Estamos no mundo do trabalho para o
dinheiro, e do dinheiro para o trabalho. É um ciclo. Sair desse ciclo é ser
diferente. Essa diferença é amplamente combatida, é vista como exclusão. Cria-se
para tanto, a inclusão a partir do ter. É um retorno à normalidade. O
reconhecimento se dá no ter, na vontade de querer, da posse, da propriedade. O
normal é ter e não ser.
Assim, nessa premissa, a educação passa a
ser um exercício, um treinamento, para a busca do ter e não para o ser. São
dicas, tutoriais, treinamentos, motivações internas e externas que vão
selecionando os aptos a terem. Aqueles que não são selecionados, lhes resta
querer aquilo que os selecionados lhes oferecem: a possibilidade do trabalho e
do emprego como possibilidade de serem felizes. E eles passam a vida
trabalhando, buscando a felicidade prometida.
É interessante observar que no processo de
loucura do mundo, restam a possibilidade da crítica. Só percebemos a nossa
loucura, quando o ato de criticar for visto como algo patológico. A crítica na
normalidade é banal. Já a crítica sobre a normalidade tem efeito. É formação
humana. Vai além do simples ver o problema. É mais, é investigar, é desconforto,
dor, sofrimento, é movimento!
De toda forma, enquanto o sistema
educacional não perceber que em um mundo onde a loucura é normal, a diferença é
um problema, ele continuará a reproduzir a normalidade do ser louco, em que o
principal objetivo é a busca do ter.
Nenhum comentário:
Postar um comentário