Passarinhos cantam junto à janela. A escuridão se despede sem resistência e o dia chega manso, cada vez mais cedo. É o verão! As tardes serão infinitas, as noites, cheirosas, o pé ficará descalço, e o cabelo molhado secará naturalmente.
As estações começam não com datas, mas com estados de espírito. Com vontades nascidas dos nossos cinco sentidos. Você vê uma flor que não estava ali, percebe o perfume da melancia na feira, saboreia um picolé, ouve os passarinhos e sente o sol na pele mesmo quando ele já se foi. Em algum momento, o verão chega. Não pelo calendário, mas dentro de você. Através do que você vê, ouve, sente ou prova.
Conheça uma série de rituais para sacudir a poeira e dar as boas-vindas à estação mais luminosa do ano - todos sugeridos por escritores, músicos, artistas e gente com sensibilidade.
Limpar a casa
Parece que, ao escancarar as janelas para receber o verão, os lares pedem um banho de alma, como o feito pela professora de história da arte Paula Ramos: "Entre minhas manias de verão está uma boa limpeza no escritório, na casa, em tudo. Começo separando papéis e escolho o que será descartado. Depois, consigo entrar no meu escritório com mais liberdade de movimentos. Aí, vou para o restante da casa: lavo cortinas e faço a faxina pesada", relata. A figurinista Rô Cortinhas não poupa nem cobertores e edredons: "Também limpo e guardo o tapete da sala, e voltamos a pisar de pés descalços no piso de madeira".
Descalçar os pés
Se tiver de escolher um objeto para dar adeus ao inverno, um forte candidato é o sapato fechado. Exibir os pés e rever seus dez dedos depois de tanto tempo é uma sensação indescritível.
Revirar o armário
A cada verão, o ritual se repete no quarto da professora Paula: "Abro o roupeiro e separo tudo o que não usei nos últimos três anos. Caso não tenha uma relação afetiva com a roupa ou o sapato, passo adiante. Minha casa é cheia de coisas, então, o verão representa efetivamente um período de limpeza, de tirar do meio do caminho o que não serve mais".
Usar pouca roupa
No verão, muita roupa atrapalha. Limita os movimentos. E verão é movimento. Tem roupa cujo tecido você não quer nem encostar quando o calor urge lá fora.
Sentir os aromas
Talvez o olfato sinalize mais fortemente o potencial sensorial do verão. O vizinho molha a grama e você sente o cheiro antes de ver a cena. Na caminhada diária, sente o perfume de uma flor onde antes só havia galhos e folhas. Além do cheiro de maresia na estrada rumo à praia. E o mais impressionante: "Sentir o sol na pele quando já é noite", lembra a filósofa Viviane Mosé.
Beber muita água
Repare nas esquinas, junto aos semáforos. Mais sensíveis à oportunidade de lucro do que ao calor, os ambulantes oferecem o que parece ser a bebida dos deuses: água. Pode ser de coco, com hortelã, com gelo e limão. A artista plástica Lou Borghetti tem uma receita: "Num copo bonito, coloco água gelada com uma folhinha de manjericão ou um pauzinho de canela. No verão, adoro também apreciar o sabor da água pura e simples".
Ler sob a brisa
Pode ser na varanda de casa, no jardim ou num cantinho adaptado, na poltrona, na espreguiçadeira, na rede ou no chão. O fato é que ler sentindo a brisa fresca no rosto é um prazer diferente de ler debaixo do cobertor em frente à lareira. "Ler sob a sombra de uma árvore no verão é como levar sua alma para um piquenique", define a jornalista Cláudia Laitano.
Reverenciar o sol
O ritual pode ser de manhã ou no final da tarde: a perspectiva de apreciar o sol antes ou depois do trabalho torna a labuta mais leve.
Fazer sua hora feliz
As happy hours não dependem de estação para ocorrer. Mas o verão exige outro cardápio e garante sempre a alternativa da mesa ao ar livre. O que importa mesmo é a companhia, a cumplicidade do momento.
Retomar ideias
A estação parece curta para tantas ideias que você tirou da gaveta só porque o dia amanheceu cedinho e a noite demora pacas para voltar. O verão nos estimula mesmo - mas cria também as distrações no caminho entre a vontade e a execução daquele projeto. "No verão, penso seriamente em fazer uma dieta, mas aí o desejo de tomar uma cervejinha põe tudo a perder", confessa a professora de história da arte Paula Ramos.
Dispensar o carro
Aproveitar a luz natural e o clima ameno para andar a pé ajuda a desafogar o trânsito, faz bem ao coração e colabora com a redução de emissão de gás carbônico na atmosfera. "No verão, vou sem carro para o trabalho no turno da tarde e trago um sapato leve, uma sapatilha ou um chinelinho na bolsa. No final do dia, troco o calçado e caminho até minha casa. São cerca de 30 minutos, em que aproveito para relaxar, ouvir música e fazer planos. É uma espécie de meditação em movimento", afirma a jornalista Liège Alves.
Eleger uma música
Todo ano tem uma música tema do verão. Aquela que toca em todos os lugares, no quiosque da praia, no supermercado, em todas as rádios. Em geral, algo com um refrão que gruda como chiclete e você não sabe explicar por que está repetindo também. Mas dá para eleger seu próprio hit. E daí, para virar trilha sonora, pode ser um pulo. De Beach Boys a Los Hermanos, a escolha tem que ser natural e cheia de bossa.
Fazer nada
O verão é a época ideal para desligar a mente olhando para o céu, aposta a artista plástica Lou Borghetti. "Adoro me deitar sobre uma toalha no pátio e ficar olhando o céu, os desenhos que as nuvens vão formando, aquela sensação de infinito. Isso também é meditar", filosofa.
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