Vamos
deixar uma coisa bem clara: nós pais, adultos, decidimos e ditamos as regras. Os
filhos, crianças, obedecem e cumprem o que for determinado. Parece autoritário?
Podemos amenizar. Nós, adultos, chamamos os filhos para uma conversa e, junto
com eles, após ouvi-los e expormos os nossos argumentos, determinamos o que será
realizado. Estamos todos de acordo?
Pois bem. E quando o que está em jogo é o futuro da criança, a escolha da
escola, dos cursos extras e esportes nos quais ela será inscrita, temos o
direito de impor o que achamos o que é melhor para ela ou devemos deixá-la livre
para decidir por si mesma de acordo com suas vontades? Está aberto o debate.
Talvez tenha faltado dizer que já experimentamos de tudo. Ana Bia é eclética.
Aos 9 anos, tem no currículo atividades extras de natação, balé, iniciação
musical, acrobacia aérea, dança criativa, teatro, ginástica rítmica, ginástica
artística e, este ano, as novidades coral, teclado e inglês. Na lista dos seus
quereres ainda constam: xadrez, “Mamãe, me inscreve? Gosto tanto de jogar com a
Malu”, robótica, “A Fulana é a única menina da turma que faz, eu queria também”,
vôlei, “É muito, muito legal!”, violão, “Eu quero ser cantora sertaneja, preciso
aprender violão”, tênis e francês.
Não, ela não fez todos os cursos ao mesmo tempo. Foi um entra e sai dos
diabos. O teclado ela queria muito, muito mesmo. Não quer mais. Teatro fez um
ano, pediu para sair, este ano quis voltar, voltou. Natação já parou várias
vezes por diferentes motivos. Balé, idem: em Porto Alegre amava, no Rio, odiou a
nova escola e pediu para sair. Entrou na dança aérea, uma espécie de acrobacia
com tecidos, se apaixonou. Cursou dois anos, viemos para São Paulo, parou. Para
compensar, inscreveu-se nas ginásticas rítmica e artística, não curtiu a
primeira, optou pela segunda e segue firme. Muito bem.
Agora, acredito que já tenho um panorama claro do que ela gosta, não gosta,
tem aptidão ou não. Enxergo o cerne dos problemas e vontades de desistência e o
que é o melhor para ela. Como no ano passado, quando implorou dezenas de vezes
para que eu a trocasse de escola. Estava claro para mim que a escola não era o
problema, mas situações desagradáveis vividas ali. Mudou a turma, mudaram as
amigas, este ano está adorando, idolatrando o colégio, não quer faltar nem
quando está doente.
Nós, pais, temos que desenvolver esse olho clínico, saber avaliar o que é um
desejo ou problema momentâneo, impulsivo, ou uma questão realmente prejudicial.
Temos que ajudar nossos filhos, também, a criar esse discernimento. Chutar o
balde é mais fácil, mas não é a melhor solução. Abandonar o teclado porque está
difícil conciliar a mão dos acordes com a da harmonia não a levará a tocar
perfeitamente violão, tão logo troque um instrumento pelo outro. Em ambos os
casos, a perfeição virá com o treino. Não há milagre.
O que estou fazendo é dificultando a desistência, incentivando a
persistência, exigindo retorno de investimento, comprometimento. Fiz um trato
com a Bia: se até o fim do ano ela se dedicar ao teclado, mostrar esforço,
superação e, principalmente, constância, eu a matriculo no violão. E prometi:
vou fazer de tudo para que consiga trocar de instrumento. Mas não, não negocio
os termos. Nem vou facilitar.
O que aplico aqui em casa como princípios e regras não
negociáveis:
- Você pode fazer o que quiser nessa vida, mas tem que fazer bem feito. Dar o
melhor de si se aplica também ao que você não tem escolha. Adote a excelência
como padrão.
- Foque e faça bem feito da primeira vez. Fazer de qualquer jeito é pedir
para ter retrabalho e é uma grande perda de tempo. Poupe-se. A vida é curta.
- O ideal (assim com o sucesso) não é facilmente alcançável, você precisa
arregaçar as mangas e lutar por ele. Ninguém vai fazer isso por você.
- O que você já sabe fazer sozinha, faça-o. Se não souber, tente. Se
realmente não conseguir, conte comigo. Não peça ajuda sem se esforçar antes.
- Errar é humano, só não erra quem não tenta. Mas não aceite um erro como um
limitador. Para acertar, descarte todas as tentativas que não deram certo. Seja
criativa e, se possível, divirta-se no processo.
- Dificuldades existirão na escola, no mercado profissional, no casamento.
Enfrentá-las e superá-las é um caminho engrandecedor. Desistir é tão somente um
caminho.
- O conhecimento está ao alcance de todos. Mas só aqueles que o procuram,
encontram-no.
- Motivação não cai do céu nem vem de fora. Encontre-a dentro de você.
Esforce-se para se motivar, tente de várias maneiras se adaptar ao que você não
gosta ou ao que não é tão fácil quanto gostaria, não espere que a mamãe aqui (ou
quem quer que seja) pegue dois pompons e fique rebolando e pulando do seu lado
para então se mexer.
- Quer pense que pode, quer pense que não pode, você está certa.
- Não está gostando? Dê-se um prazo. Longo. Não uma ou duas aulas, não um ou
dois meses, mas um ano, 365 dias. Teste seus limites, dê o seu melhor,
supere-se, vá além. A vida é uma escadaria sem fim. Viva degrau por degrau. E
encontre na subida motivos para ser feliz.
E você, quais são as regras inegociáveis na sua casa?
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